Thénardier: esse é o nome da operação desencadeada pelos Ministérios Públicos dos Estados de Alagoas e Goiás para prender um estelionatário que estava utilizando, desde o ano passado, nomes e imagens de promotores de Justiça de diversas unidades do Ministério Público Brasileiro para aplicar golpes através do aplicativo WhatsApp. Uma das vítimas é integrante do MPAL. O acusado, James Dean Ramos Moraes, foi preso na cidade de Goiânia. A operação conta com o apoio das Procuradorias-gerais de Justiça de Alagoas e de Goiás.
As investigações começaram quando o Ministério Público de Alagoas recebeu uma representação de um membro do MPAL, que relatou ter sido informado que seu nome estava sendo utilizado para pedir dinheiro a motoristas ligados a prefeituras do interior de estados brasileiros. Diante de tal notícia, foi instaurado, por determinação do procurador-geral de Justiça, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque, um procedimento investigatório criminal (PIC) para apurar o fato.
“Tão logo tomamos conhecimento do caso, determinamos a instauração de um PIC e designamos um promotor de Justiça para apurar essa situação. Um membro do Ministério Público não pode ter ser nome utilizado para o cometimento do crime porque a sua função é justamente combater qualquer tipo de ilícito penal. Por isso, agimos rapidamente e essa ousadia criminosa está sendo combatida por nós no dia de hoje de forma exemplar e exitosa”, declarou Márcio Roberto Tenório de Albuquerque.
“Também é importante destacarmos o trabalho desenvolvido em parceria com o chefe do MP de Goiás,
Aylton Flávio Vechi, que, tão logo foi informado por nós que o golpe estava sendo praticado por um estelionatário que mora em Goiânia, colocou seu aparato investigativo à disposição para ajudar na apuração do fato”, acrescentou o PGJ de Alagoas.
Como era aplicado o golpe
Segundo o promotor de Justiça Kleber Valadares, designado para acompanhar o caso, James Dean atua com mais alguns investigados, incluindo uma mulher, em associação criminosa, sempre se passando por promotor de algum MP do país. “O modus operandi é sempre o mesmo: ele liga para alguma prefeitura ou câmara municipal, usa o nome do membro do Ministério Público, diz que é de determinado estado e alega que, como não é daquela cidade, precisa da indicação do órgão público para conseguir contratar algum motorista para trabalhar por um determinado período, onde, supostamente, seria feito um trabalho ligado ao sistema de justiça. Daí, quando a indicação de um nome é feita, é que o golpe começa se concretizar”, explicou.
“Após fazer contato direto com esse motorista, o falso promotor envia um comprovante forjado de pagamento adiantado para a vítima e, minutos depois, alega que fez a transferência no valor errado, tendo pago mais do que deveria. Então, o motorista, ingenuamente, sem nem checar se o depósito de fato entrou em sua conta, transfere o suposto valor a mais para o golpista, que acaba por se beneficiar com a fraude”, detalhou Kleber Valadares.
A investigação
O Ministério Público de Alagoas chegou a James Dean após um servidor de uma prefeitura do interior de Minas Gerais ter desconfiado da conversa do golpista. Ao perceber que o pedido para localizar um motorista, pagando a ele uma diária de R$ 600,00 seria falso, o funcionário avisou à Associação do Ministério Público de Alagoas (Ampal) que alguém estaria se passando por um promotor alagoano para dar golpes, fornecendo o número que fora utilizado pelo criminoso.
A partir daí, com a instauração do PIC, o MPAL fez uso dos seus métodos investigativos, especialmente do Núcleo de Gestão da Informação (NGI), coordenado pelo promotor de Justiça Hamilton Carneiro, para chegar até o estelionatário e descobrir de qual estado ele estava praticando o ilícito penal.
Pelo Ministério Público do Estado de Goiás, deram suporte à investigação o Gaeco e a Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI).
O estelionatário tentou aplicar o golpe ligando para prefeituras de vários municípios espalhados pelos país, a exemplo das Prefeituras de Sapiranga, Lageado, Canguçu e São Borba (RS), Aparecida do Tabuado, Anastácio e
Chapadão do Sul (MS) e Diamantina, Jacinto, São Francisco e Santos Dumont (MG).
A prisão
James Dean Ramos Moraes foi preso em casa, no condomínio Residencial Jardins do Cerrado, em Goiânia. Ao todo, foram cumpridos três mandados de busca e apreensão, dois deles, na residência de suspeitos de ajudarem na aplicação dos golpes.
O acusado será levado para o MPGO para prestar esclarecimentos.
Thénardier
O nome da operação faz referência ao sobrenome do casal vilão contido no romance do escritor francês Victor Hugo, conhecido no livro por ser uma dupla gananciosa e sem escrúpulos, deixando sua marca negativa na sociedade daquela época. Durante toda a história, o casal passa por cima de tudo e de todos, não respeitando quaisquer regras morais e não demostrando o mínimo interesse pela condição humana que os rodeia.