Quatro policiais militares foram presos, no início da manhã desta quinta-feira (04), numa operação comandada pelo Grupo de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc) do Ministério Público Estadual de Alagoas, em parceria com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e da Polícia Militar – 8º BPM, Radiopatrulha e Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e 3ª Companhia Independente.
Foram cumpridos quatro mandados de prisão e outros quatro mandados de busca e apreensão, todos expedidos pela 17ª Vara Criminal da capital, nos bairros do Benedito Bentes, Cidade Universitária, Tabuleiro do Martins e Serraria. Os PM’s são acusados de usar a farda e as viaturas da corporação para invadir pontos de tráfico de drogas, recolher os entorpecentes, revendê-los, ganhar dinheiro com esse comércio ilegal e não efetuar as prisões dos criminosos encontrados em flagrante delito.
Foram presos o cabo Anderson Cazaes Abreu, mais conhecido como “cabo Abreu”, – atualmente lotado no Batalhão de Eventos (BPE) – e José Francisco Buarque dos Santos, o “soldado Buarque”; Marcos Brito Silva, o “soldado Brito” e Flávio José Viana de Andrade, o “soldado Flávio”, todos pertencentes a Radiopatrulha (RP). Eles foram detidos em casa e não reagiram a prisão. No domicílio do cabo Abreu, a força-tarefa, que contavam com mais de 40 homens dos três órgãos de segurança pública, apreendeu uma balança de precisão, um equipamento de som, joias e munições de diversos calibre. Já na casa do soldado Flávio, foram apreendidos vários comprimidos de ecstasy e um revólver calibre 38, que teria sido usado num homicídio.
Após a prisão, os militares foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para a realização do exame de corpo de delito. Em seguida, foram levados ao sistema penitenciário.
Investigações
As investigações contra os policiais foram feitas pelo Grupo Estadual de Combate às Organizações criminosas (Gecoc), pela Promotoria de Justiça do Controle Externo da Atividade Policial e pela Promotoria de Justiça de Execuções Penais. Durante a apuração, os promotores de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça, Antônio Luiz dos Santos Filho, Hamílton Carneiro Júnior, Flávio Gomes da Costa e Cyro Blatter descobriram que o cabo Abreu liderava o grupo criminoso.
O trabalho investigativo teve início após o atentado registrado contra um cabo da Radiopatrulha há cerca de quatro meses. Depois desse episódio, levantou-se suspeita contra o também cabo Anderson Abreu, que fora apontado como um dos suspeitos do crime cometido contra o colega de farda. Na sequência da apuração, por meio do Serviço de Inteligência do Gecoc, descobriu-se que Abreu tinha envolvimento com o tráfico de drogas em Maceió.
O trabalho teve continuidade com o depoimento prestado por um traficante que teve sua droga apreendida pelo bando. O homem que fez a denúncia por meio do instrumento de colaboração premiada, confirmou que Abreu, Buarque, Flávio e Brito, nos dias em que estavam de serviço, invadiam residências e pontos de drogas de vários traficantes da cidade, recolhiam todo o entorpecente que era encontrado e, em seguida, entregava-o para homens de sua confiança. Tais pessoas ficavam responsáveis pelo comércio ilegal dos produtos e por entregar o dinheiro aos militares após a venda.
Os PM’s também são acusados do crime de corrupção passiva, haja vista que há denúncias de que eles, ao chegarem em determinados pontos de venda de drogas, extorquiam os traficantes para não efetuar as prisões em flagrante.
Ainda pesa contra os policiais a acusação de receptação de material roubado por quadrilhas de traficantes e ladrões de carro que, para manter uma relação cordial com os militares, abasteciam os PM’s com produtos de roubo, a exemplo de jóias, veículos e armas. Durante a investigação, o MPE/AL também acabou descobrindo que, aqueles carros que eram roubados pela organização criminosa, somente eram devolvidos aos seus proprietários mediante a cobrança de um valor negociado através de contato entre os militares presos e vítimas.
“A prisão cautelar dos investigados irá interromper a atividade criminosa continuada dos integrantes do bando, causadora de prejuízos irreparáveis. A quadrilha investigada tem agido com estabilidade e permanência no cometimento de delitos funcionais e de tráfico de drogas”, argumentaram os promotores de Justiça em ofício encaminhado à 17ª Vara Criminal da capital.