“Eu aprendi que não se pode trancar os animais numa gaiola porque eles têm que ser livres. É a mesma com o ser humano, a gente não vai querer ficar no lugar deles, né? Se tiverem na natureza, eles vão poder fazer muitos filhinhos e deixar o meio ambiente com mais passarinhos”. Foi com essa declaração que a pequena Evellyn Maria Silva Menezes, de apenas 8 anos, mostrou que preservação também é coisa de criança. Ela foi uma das centenas de alunas que receberam os ensinamentos do projeto ‘Guardiões da Natureza’, um braço de educação ambiental que faz parte da Fiscalização Preventiva do Rio São Francisco, uma espécie de força-tarefa coordenada pelo Ministério Público Estadual de Alagoas, e que envolve mais 24 instituições, em defesa do ‘Velho Chico’ e da população ribeirinha que vive às suas margens.
A Carla Cristina da Silva também mostrou que aprendeu tudo aquilo que lhe foi ensinado: “Os animais devem ser livres porque eles, ainda que indiretamente, ajudam as árvores a ter sempre frutos. E se temos árvores, frutos e pássaros, temos também a natureza preservada. Eu quero poder mostrar o meio ambiente aos meus filhos”, afirmou a garotinha de 7 anos.
O conteúdo repassado à Evellyn e à Carla foi o mesmo compartilhado com mais de 500 outros estudantes de escolas públicas municipais e estaduais dos municípios de Batalha, São José da Tapera e Pão de Açúcar, cidades localizadas no Sertão de Alagoas. Foram palestra e os jogos educativos direcionados a esse público por meio do projeto “Guardiões da Natureza”, a mais nova iniciativa da FPI do São Francisco.
“A FPI não somente tem caráter punitivo. Na verdade, seu maior objetivo é educacional, já que nossa intenção é mostrar às prefeituras, comunidades, escolas, órgãos públicos e empresas, que, acima de seus interesses econômicos e pessoais, suas ações devem ser ecologicamente corretas”, afirmou a promotora de Justiça Lavínia Fragoso, coordenadora da FPI.
“A questão ambiental está em alta por uma razão simples: a necessidade de sobrevivência. Quanto mais cedo o tema for abordado com as crianças, maiores as chances de despertar nelas a consciência pela preservação. Por isso, a educação para uma vida sustentável deve começar já na sala de aula. Inclusive, é importante deixar claro que o Ministério Público defende que a educação ambiental faça parte da grade curricular do ano letivo de forma transversal e interdisciplinar. É preciso se explorar o meio ambiente com curiosidade, percebendo-se como ser integrante, dependente, transformador e, acima de tudo, capaz de ter atitudes de conservação”, defendeu Alberto Fonseca, também promotor de Justiça e coordenador da FPI do São Francisco.
E esse conceitos de educação defendido no discurso de Fonseca está embasado na lei federal nº 9.795/1999, que dispõe Política Nacional de Educação Ambiental. Em seu artigo 1º, ela diz que “entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”
De acordo com o biólogo Marcos Araújo, estudar educação ambiental envolve todo o ecossistema da fauna, flora, recursos hídricos, solo e clima. “São sistemas que funcionam numa cadeia ecológica e, sendo assim, é gerada uma dependência mútua entre todos esses elementos. A ausência de qualquer um deles, provoca, invariavelmente, o desequilíbrio da natureza e começa a pôr em risco espécies de animais, vegetação e mananciais”, explicou ele.
IMA, IPMA e Semarh vão às escolas
A Diretoria de Desenvolvimento e Pesquisa (Didep) do Instituto do Meio Ambiente (IMA), o Instituto de Preservação da Mata Atlântica (IPMA) e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e de Recursos Hídricos (Semarh) também estão diretamente ligados ao projeto ‘Guardiões da Natureza’.
Segundo Pedro Normande, diretor da Didep, esse projeto de educação ambiental complementa as ações realizadas pela FPI. “Ele foge completamente do caráter punitivo da fiscalização e desperta nas crianças o desejo de preservar, de cuidar da fauna e da flora”, argumentou.
“E nós vamos mais além. Além de fazer palestras e ensinar à criançada, por meio de jogos, quebra-cabeças, desenhos e animais em forma de brinquedo, sobre a importância da preservação, nós também capacitamos professores e gestores públicos sobre a degradação ambiental e todas as suas problemáticas. A intenção é que, tanto discentes, quanto docentes, possam ser multiplicadores”, acrescentou Pedro Normande.
Plantando esperanças
E não somente de teoria foi construído o projeto ‘Guardiões da Natureza’. Além do bate-papo e do momento lúdico, os alunos tiveram a oportunidade de também fazer o plantio de mudas nas escolas. A direção cedeu parte do terreno da unidade de ensino e, assim, a garotada colocou a mão na terra para plantar.
“Eu nem acredito que plantei a minha primeira arvorezinha, quanta emoção. Ela pode se chamar Peppa? É que esse é o nome da minha porquinha favorita, de um desenho animado. Eu prometo que vou cuidar dela como se fosse uma filha. Eu ainda nem sou gente grande, mas, a partir de agora, terei compromisso de adulto. Dou a minha palavra que serei para a Peppa, o mesmo que minha mamãe é para mim”, disse, comemorando, Adriane Natália Miranda Barros, de 6 anos.