Após quase 30 anos sem registros na Mata Atlântica, de onde é originária, e considerada uma das cinco aves mais raras das Américas, o Mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) voltará para casa em setembro. A notícia foi dada, nesta terça-feira (22), pelos promotores de Justiça Alberto Fonseca e Magno Alexandre Moura, durante visita aos magistrados responsáveis pela comarca de Rio Largo.
O encontro foi realizado na cidade, já que a primeira área utilizada para reintrodução da espécie e o Centro de Educação Ambiental Pedro Mario Nardelli foram instalados no município. O nome foi escolhido para homenagear o pesquisador que se dedica ao trabalho de preservação do Mutum há 42 anos.
Os representantes da instituição ministerial apresentaram aos magistrados Alexandre Machado e Galdino Vasconcelos o Plano de Ação Estadual (PAE) do Mutum-de-Alagoas. Eles também explicaram aos membros do Poder Judiciário, quais serão as próximas etapas para a reintrodução da espécie em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).
O plano é fruto do trabalho coletivo que, além do MPE/AL, teve como protagonistas entidades do poder público e inciativa privada como o Instituto de Preservação da Mata Atlântica (IPMA), Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Instituto SOS Catinga, Usina Leão e Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) e Federação das Indústrias do Estado do Alagoas.
“O apoio do Poder Judiciário para esse projeto tem fundamental importância para seu sucesso. Mostramos aos magistrados como serão as etapas de reintrodução da espécie e a relevância desse retorno para a Mata Atlântica. Saímos daqui satisfeitos com a recepção que tivemos”, declarou promotor de Justiça Alberto Fonseca, que é coordenador do Núcleo do Meio Ambiente do MPE/AL.
Para o promotor de Justiça Magno Alexandre Moura, titular da 2ª Promotoria de Justiça de Rio Largo, que também atua em procedimentos envolvendo questões ambientais no município, o projeto é um verdadeiro legado para ser entregue às futuras gerações.
“Faz parte dos direitos da sociedade ter seu patrimônio ambiental conservado. O Ministério Público de Alagoas vem atuando em diversas frentes para garantir isso. A reintrodução do Mutum, e sei que futuramente de outros animais, é a garantia de que nossos filhos e netos terão acesso a um meio ambiente equilibrado”, afirmou.
Os magistrados Alexandre Machado e Galdino Vasconcelos demonstraram entusiasmo com a escolha da cidade de Rio Largo para sediar a primeira área reintrodução e Centro de Educação Ambiental Pedro Mario Nardelli. Eles afirmaram que o Poder Judiciário dará o apoio necessário para que inciativa tenha sucesso. “É um trabalho impressionante e muito bem-vindo. Não mediremos esforços, dentro de nossa esfera de atuação, para o sucesso da iniciativa. Sabemos que não é fácil a reintrodução de uma espécie nativa para seu habita natural. É um trabalho que demanda tempo, cuidados específicos e a fiscalização dos locais onde elas estarão inseridas. Acompanharemos de perto todo o processo”, enfatizaram.
Trabalho em parceria
Também participaram da reunião o presidente do IPMA, Fernando Pinto; o representantes do Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), tenente Wenderson Viana; e um dos primeiros responsáveis pela reprodução da espécie em cativeiro no Brasil, Pedro Nardeli.
“Todas as fases necessárias para a vinda do Mutum estão dando certo e já estão em fase de finalização. Os animais chegam em setembro e passarão por algumas etapas técnicas. Depois disso estarão preparados para serem reintroduzidos na natureza. Nossa principal preocupação é com a cultura da caça na região. Já estamos realizando um trabalho de educação ambiental com os moradores, tentando mostrar que essa ave não pode ser caçada. Além disso, contamos com a sensibilidade dos representantes do Poder Judiciário para possíveis demandas de atuação dos caçadores. Um tiro pode acabar com um trabalho de 30 anos e comprometer o equilíbrio do meio ambiente. Isso não pode ser permitido”, afirmou Fernando Pinto.
Responsável pelo início do processo de recuperação do Mutum no Brasil, o pesquisador Pedro Nardeli ressaltou que a chegada de casais da espécie em Alagoas, no mês de setembro, quando se comemora os 200 anos de Alagoas, é simbólico e confere força ao projeto.
“A reintrodução dessa espécie em Alagoas é emblemática para a luta de preservação do patrimônio ambiental do estado. É uma mensagem direta para as futuras gerações, de que é preciso cuidar da natureza e fomentar ações corretamente ecológicas. Fico muito feliz em assistir um trabalho que já dura 42 anos ter um resultado desses. Não foi uma batalha fácil, mas eu agradeço por ver o resultado florindo”, disse.