Daniel Ferreira da Silva tem 14 anos e um sonho, tornar-se um jogador igual ao Paul Pogba, meiocampista guineano naturalizado francês, que atualmente defende o Manchester United. Estudante de uma escola pública no município de Palestina, alto Sertão alagoano, ele é um dos 35 adolescentes beneficiados pelo projeto Simase, idealizado pelo Ministério Público Estadual de Alagoas (MPE/AL) e que conta com a parceria da Prefeitura daquela cidade. Nessa quinta-feira (24), o projeto foi lançado oficialmente e a primeira atividade piloto criada foi uma escola de futebol.
O Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo (Simase) foi implantado nos moldes do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), que é uma lei federal. E o Ministério Público começou a cobrar que estados e municípios criassem seus sistemas após a Recomendação nº 26 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que pede um olhar diferenciado dos promotores que atuam na área da infância e juventude para que eles dediquem atenção especial às políticas públicas capazes de cuidar de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e que estejam em cumprimento de medidas socioeducativas.
E foi por meio da atuação da promotora de Justiça Marta Bueno que o projeto foi implantado em Palestina. Em seguidas reuniões com o Poder Executivo, ela conseguiu convencer a gestão da importância do Sinase e sugeriu que o pontapé inicial fosse dado por meio da criação de um time de futebol. “Aqui nós atuamos no perfil do MP resolutivo e participativo. Somos uma Promotoria de Justiça que sai do gabinete e que não fica encastelada entre os processos e a lei. Tivemos reuniões com os órgãos públicos, ouvimos a comunidade e os estudantes. Sentimos que eles queriam esporte e, como todos nós sabemos, o futebol é uma paixão nacional. Estamos felizes com o dia de hoje porque é possível ver brilho nos olhos desses meninos. E olha, vou confessar uma coisa, acho que teremos um Neymar saindo de Palestina para o mundo”, brincou a promotora.
O procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, também participou do lançamento do projeto. “O Ministério Público se orgulha do trabalho que está sendo desenvolvido pela promotora de Justiça Marta Bueno e compartilha do desejo de ver esses 35 meninos transformando suas realidades e realizando o sonho de se tornarem jogadores. E nos alegramos mais ainda em saber que esse projeto está associado ao bom desempenho escolar. E digo isso porque sabemos que sem educação jamais será possível tirar o atraso desse país. Esporte e educação são, juntos, uma grande fórmula de mudança social”, disse o chefe do MPE/AL.
“O Ministério Público também tem o dever de levar cidadania às pessoas e é exatamente isso que o esse projeto está buscando. Num turno, aula. No outro, esporte. Dobradinha que vai mudar a vida de muitos jovens”, comentou o promotor de Justiça e presidente da Associação do Ministério Público de Alagoas (Ampal), Flávio Costa.
“O Simase está apenas começando. Hoje são 35 adolescentes, mas a ideia é que possamos atender a centenas deles, tanto aqueles que estão em conflito com a lei, quanto os que estão em condição de vulnerabilidade social. E tenham certeza que os beneficiados realmente se enquadram no perfil. Foi feita uma triagem pelo Conselho Tutelar e pela Secretaria de Educação e escolhemos aqueles que mais precisam dessa oportunidade. E queremos informar que será feito um acompanhamento criterioso do rendimento escolar de cada um, assim como o grupo também receberá atendimento psicossocial e médico”, detalhou a prefeita Eliane da Silva Lisboa.
O Simase e a sua capacidade de realizar sonhos
Paulo Denisson dos Santos Nascimento estuda numa escola da rede municipal de ensino. O futebol é uma de suas maiores paixões, mas, em função da condição financeira da sua família, nunca pôde treinar numa escola profissionalizante. “Isso aqui significa tudo pra mim. Quero um dia ser jogador famoso, ajudar a minha família e não passar nunca mais necessidade”, disse o garoto que joga como volante.
O Daniel Ferreira da Silva tem sonho parecido. Sua maior é um jogador francês que, também de origem humilde, deixou Guiné-Bissau e mostrou ao mundo o seu bom futebol. “Ele venceu a pobreza, a falta de esperança e se tornou um gigante. Não sei se vou conseguir o mesmo, mas o Pogba me serve de inspiração”, declarou o meiocampista.
“Eles estão entusiasmados com essa oportunidade. Estão felizes e gratos por terem sido selecionados. Como o projeto está começando agora, ainda estamos numa fase bem embrionária. Porém, já tem meninos aqui que eu sei que, daqui a pouco, estarão nos maiores clubes de Alagoas. Tirá-los das ruas, afastá-los de qualquer contato com o crime e ajudá-los a se tornarem cidadãos é o nosso dever aqui”, comentou Jorge Caju, treinador do time.
O Simase também vai incluir aulas de voleibol, capoeira e informática.