De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio anualmente. Isso significa dizer que, a cada 100 mortes, uma está relacionada ao problema. Visando a valorização da vida e o bem-estar da população, o Comitê Estadual de Prevenção e Posvenção do Suicídio de Alagoas (CEPPSAL) deu início nesta quarta-feira (09) à elaboração do seu planejamento estratégico. Sediado no Ministério Público de Alagoas (MPAL), o encontro contou com a presença de representantes de órgãos públicos, instituições sociais e entidades representativas.
A promotora de Justiça Micheline Tenório destaca que o combate ao suicídio é uma questão de saúde pública mundial, sendo importante a realização de iniciativas nesse sentido. Para ela, as ações não devem focar apenas no ato do suicídio em si, mas na prevenção e na valorização da vida para que esse tipo de fatalidade não venha a ocorrer. É necessário que as ações de enfrentamento estejam atreladas a um planejamento maior, afirma a promotora, que é coordenadora do Núcleo de Defesa da Saúde Pública do MP.
“O Comitê existe há alguns anos. Durante a Pandemia, as atividades foram reduzidas. A gente está retomando o Comitê e fazendo o planejamento. Já há algum tempo, as instituições mais modernas trabalham com planejamento estratégico. Foi uma sugestão que eu trouxe para o Comitê e eles abraçaram. Todos se solidarizaram com esse tema e acharam extremamente importante planejar. Só temos uma boa execução se antes as ações forem planejadas”, pondera a promotora.
A presidente do Comitê, Delza Gitaí, explica que o suicídio é um problema que está atrelado a vários fatores, não sendo possível apontar apenas uma questão quando se fala no assunto. Delza destaca a importância do trabalho de apoio emocional feito por instituições sociais, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), onde ela é voluntária. O CVV funciona 24 horas por dia, todos os dias, inclusive em feriados. As pessoas interessadas podem procurar o Centro através do telefone 188, por e-mail ou chat no site da instituição.
“Nós damos apoio emocional. O CVV é um pronto socorro emocional, não somos psicoterapia. Nesse apoio, nós fazemos um acolhimento, com compreensão empática, com respeito, aceitação de como a pessoa está e consideração com as pessoas. Nós fazemos o atendimento pela abordagem centrada na pessoa. A pessoa está em primeiro lugar. Nós que atendemos estamos disponíveis para dar calor humano com essas características da escuta qualificada”, relata Delza.
Durante a reunião, a coordenadora do projeto Raízes de África, Arísia Barros, falou sobre a relação entre o suicídio e a questão racial. Ela acredita que as campanhas de prevenção devem conter ações voltadas especificamente aos problemas que a população negra enfrenta. “A campanha do Janeiro Branco e do Setembro Amarelo, por exemplo, não contemplam pessoas negras. Seria interessante a realização de uma campanha específica para a população negra sobre o suicídio, abordando as questões que enfrentamos no dia a dia”, sugeriu Arísia.
Situação no estado
O vice-presidente do CEPPSAL, Arnaldo Santos, afirma que foram registradas 56 tentativas de suicídio no primeiro semestre de 2022 pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na área atendida por Maceió, o que corresponde a 16 municípios. Além de vice-presidente do Comitê, Arnaldo também é membro do Centro de Promoção à Saúde, Educação e Amor à Vida (Cavida), que oferta apoio psicoterápico à população.
“Nós fazemos atendimento psicoterápico no Cavida. Ao todo, são 15 psicólogos. Nós somos uma das primeiras instituições aqui em Maceió. Nesses 10 anos de atuação, foram cerca de 25 mil atendimentos. No Centro fazemos atendimento presencial e também por videochamada”, explica Arnaldo.
Para a supervisora da Atenção Psicossocial de Alagoas, Tereza Cristina Tenório, um dos principais pontos no combate ao suicídio quando se fala em saúde pública se refere ao fortalecimento da rede. De acordo com Tereza, há estudos apontando que cidades com Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) apresentaram redução nas taxas de suicídio em 14%, realçando o papel das unidades de saúde nesse enfrentamento.
“Em Maceió, temos poucos CAPs de acordo com o porte populacional. Também seria interessante esses serviços funcionando 24 horas. Atualmente, os serviços funcionam em horário comercial. Nos horários noturnos e nos finais de semana, que possam vir a acontecer uma tentativa de suicídio, a gente fica descoberto. O principal desafio acredito é fortalecer e ampliar a rede de atenção psicossocial. Isso é uma das questões que o Comitê está abraçando”, relata.