Você já se imaginou sem enxergar o mundo à sua volta? Tem ideia do que significa enfrentar os desafios diários em casa, no trabalho e na rua em razão da cegueira? Provavelmente não. E foi justamente para aproximar essa realidade de membros, servidores, estagiários e colaboradores que o Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) criou o projeto Visão Solidária. Dentre outras coisas, a iniciativa quer despertar nos integrantes da instituição um olhar especial às pessoas com deficiência que tanto trabalham internamente no órgão, quanto aquelas que buscam atendimento na esperança de terem suas demandas resolvidas. A solenidade de lançamento do projeto aconteceu nesta quarta-feira (13), em Arapiraca.
A cerimônia ocorreu no prédio do Ministério Público de Arapiraca e foi prestigiada por promotores de justiça e servidores da unidade do MPAL daquele município. Coordenado pela analista de gestão pública Rosana Lucena, que tem deficiência visual, o Visão Solidária conta com o apoio integral da chefia da instituição. “Foi num bate-papo informal com o procurador-geral de justiça, Alfredo Gaspar, que surgiu a ideia. Eu conversei com ele sobre a vontade que tinha de fazer essa capacitação, e ele me orientou a criar um projeto com essa finalidade. Recebi aquele seu pedido com grande alegria e entusiasmo. Por isso, fica aqui o nosso agradecimento por tamanha sensibilidade”, disse ela.
“É claro que o Ministério Público abraçaria essa causa. Como instituição que defende e protege direitos é nossa obrigação saber lidar com os mais diferentes tipos de públicos, especialmente aqueles que precisam de uma atenção maior da nossa parte”, comentou Alfredo Gaspar.
O promotor Adivaldo Batista, coordenador da unidade do MPAL em Arapiraca, também prestigiou a capacitação. “Estamos orgulhosos por Arapiraca ter sido escolhida para dar o pontapé inicial nesse projeto. Temos muito a aprender e queremos absorver todo esse conhecimento”, declarou. E, assim como ele, também estiveram presentes ao evento os promotores de justiça Luiz Cláudio Branco Pires, Maurício Wanderley e Rogério Paranhos.
O projeto
E já no seu primeiro dia de atividade, o Visão Solidária deixou bem claro o que pretende fazer ao longo dos próximos meses: “Sendo o Ministério Público uma instituição cuja função passa pela defesa dos direitos individuais indisponíveis, possuindo promotorias que, baseadas nos princípios da igualdade, da dignidade, da solidariedade e da justiça, dedicam-se à garantia da efetiva inclusão e integração das pessoas com deficiência, é fundamental que a gente trabalhe a capacitação de todo o nosso pessoal, que vai desde os membros, passando pelos funcionários, até os militares a serviço do MPAL e voluntários. O objetivo maior é que todos tenham ideia de como é a vida de uma pessoa cega e possam estar preparados para atender a essa parcela da população”, explicou Rosana Lucena.
Victor Marinho, também analista de gestão pública e integrante do Visão Solidária, reforçou a importância do projeto. “A diversidade é inerente ao ser humano, porém, existe uma grande dificuldade social de se valorizar o que não é igual, o diferente. Rejeita-se o que não reflete o padrão de normalidade e a gente está aqui justamente para desmistificar isso”, defendeu ele.
O servidor Jailson Macedo, que trabalha no setor de protocolo do MPAL de Arapiraca, falou da experiência vivenciada na prática: “Fomos vendados e incentivados a percorrer parte do prédio apenas com a ajuda de alguém nos dando a mão. A sensação é indescritível. Andar e não saber o que está à nossa frente é desafiador. E isso me trouxe uma grande lição, que é o fato de saber que o deficiente visual pode ter uma vida normal, apesar da luz que lhe falta, e que precisamos ter mais empatia por aquelas pessoas que sofrem com algum tipo de deficiência. Faz-se necessário a gente se colocar no lugar do outro”, declarou.
Cronograma
E nesta quarta-feira (12) o Visão Solidária deu início à capacitação do corpo de pessoal que trabalha na unidade do Ministério Público de Arapiraca. Por lá, cerca de 30 pessoas foram qualificadas e receberam as orientações necessárias para lidar melhor com a população cega. Na sequência, no dia 5 de fevereiro, haverá o treinamento para aqueles que trabalham no prédio-sede, no bairro do Poço, e, dois dias depois (7), para o pessoal do prédio das Promotorias de Justiça da capital, no Barro Duro.
“A pessoa com deficiência, por não está inserida nesses padrões ditos normais e determinados pela sociedade, acabam por virar alvo de exclusão. No entanto, o que queremos fazer é que todo mundo enxergue que o cidadão com deficiência está cada vez mais produtivo, buscando o seu lugar no mercado de trabalho e lutando por seus direitos. Então, cabe a nós, instituição que também existe para defender esse público, estarmos devidamente preparados para lidar com ele”, afirmou Andreza Queiróz, analista em gestão pública do MPAL.
O projeto-piloto Visão Solidária trabalhará, inicialmente, na formação em como melhorar a maneira de lidar com os deficientes visuais. No entanto, a expectativa é que
seja criado um programa maior e que possa abranger outras deficiências.