O projeto “Ação estadual em defesa da vida”, que desenvolve ações de prevenção ao suicídio, à automutilação e à depressão, uma iniciativa do Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL), chegou à cidade de Palmeira dos Índios. Nesta quarta-feira (30), promotores de justiça e técnicos de órgãos públicos e do Centro de Valorização à Vida (CVV) fizeram palestras para alunos da rede pública no turno da manhã e, à tarde, foi discutida com gestores do município a proposta de criação de um comitê para prevenir as situações que foram palco das discussões que ocorreram durante todo o dia.
Entre às 10h e o meio-dia, as atividades ocorreram no campus do Ifal para estudantes da Escola Municipal Dr. Gérson Jatobá Leite. A pequena Isabelly Louisy Barbosa dos Santos, de 12 anos, que cursa o 6º ano do Ensino Fundamental, esteve atenta a todas as explicações e decidiu que, após os alertas feitos pelo Ministério Público, vai criar um projeto para ajudar colegas que estão passando por depressão. “Eu fiquei muito tocada com tudo o que ouvi e estou saindo daqui com vontade de ajudar a quem precisa. Temos que dar apoio a quem está necessitando de atenção para que essas pessoas possam compartilhar a sua dor. Assim, vamos saber como ajudá-las. Se elas se sentirem importantes, não vão querer tirar sua própria vida e nem se automutilarem. Já falei com algumas colegas de classe e elas toparam fazer esse projeto para que a gente faça uma busca ativa dentro do nosso próprio colégio”, explicou ela.
E as explicações compartilhadas com a Isabelly e com os outros dezenas de alunos foram dadas pelas promotoras de justiça Micheline Tenório, coordenadora do Núcleo de Defesa da Saúde Pública, e Hylza Paiva Torres, coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher. O promotor de justiça da 1ª Promotoria de Palmeira dos Índios, Sérgio Ricardo Vieira Leite também participou dos debates.
Durante sua fala, Micheline Tenório destacou que a “ação estadual em defesa da vida” nasceu do diagnóstico feito pelo MPAL sobre o alto índice de suicídio e automutilação detectados em vários municípios alagoanos. “É por isso que estamos aqui, para dizer a este auditório que cada um aqui é importante e tem muito valor. Se você está se sentindo sozinho, procure alguém da família para conversar, ou busque um amigo. Os professores também pode dar esse apoio. E se o problema for em casa, com os seus pais, por exemplo, existe o conselho tutelar que está aí para protegê-los. Não se sintam sozinhos, existe uma grande rede de atendimento pronta para recebê-los”, garantiu.
E esse discurso foi reforçado pelo promotor Sérgio Ricardo: “Inclusive, o Ministério Público está de portas abertas para recebê-los. Eu sou promotor da área da infância e juventude e tenho a importante missão de trabalhar para garantir os direitos consagrados na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de todos vocês”, frisou ele.
Importância do diálogo
A promotora Hylza Torres, que desenvolve um projeto semelhante na 1ª Promotoria de Justiça de Coruripe, promoveu uma palestra sobre as experiências vivenciadas por ela, lá naquela cidade. “Eu despertei para a importância desse tema depois que recebi quase quatro casos de automutilação. Uma das adolescentes que me procurou tem apenas 12 anos e vivia uma realidade de violência doméstica dentro de casa. Em razão da falta de diálogo no ambiente familiar, ela começou a se cortar. Lembro-me bem que ela dizia que queria muito conversar com alguém, que desejava ser ouvida. Diante daquele fato, eu requeri para que o pai fosse afastado do lar. Pouco tempo depois, aquela menina já era outra pessoa. Ela voltou a tomar banho, a se arrumar e não mais se automutilou. Ou seja, temos que ajudar a quem está gritando por socorro. E esse grito pode ser silencioso, por meio de sinais. É necessário que estejamos atentos”, alertou a promotora.
O psicólogo Júnior Amaranto ficou responsável pelas dinâmicas. “Precisamos acreditar no outro até o fim, ainda que a gente ache que a situação é muito difícil. Por isso, vocês vão voltar para casa com a missão de pensar em três pessoas que acham que estão precisando de ajuda e irão até elas, oferecer companhia. O diálogo e a conversa podem mudar vidas. Mas, antes disso, vou pedir para que olhem para que está ao seu lado e sorriam, deem um abraço e falem palavras de incetivo. Vamos fazer com que o colega se sinta com auto-estima lá em cima. E, sempre, fiquem atentos aos sinais. Uma tristeza que dure mais de 15 dias já pode configurar uma depressão, que pode ser leve, moderada ou grave”, destacou o especialista.
Encontro com a rede
Já no turno da tarde, aconteceu o bate-papo com os profissionais que integram a rede de atendimento de assistência social e também das áreas de saúde e educação. O diretor do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça(Caop), promotor de justiça José Antônio Malta Marques, reforçou a necessidade de integração e do uso da mesma linguagem por todos os profissionais que atuam com essa problemática. “Que bom que estamos vendo aqui vários parceiros, de diferentes órgãos. Isso é importante demais porque o suicídio no Brasil está virando uma epidemia. E, antes dele, muita gente passa pelos processos de depressão e automutilação. Mas, para que esse trabalho possa dar certo, é preciso unificar procedimentos e dar celeridade a eles. E, para além disso, é fundamental que saibamos respeitar a dor do outro. Se a dor não é sua, não diga que ela é besteira”, declarou.
Representantes do Centro de Valorização da Vida (CVV) também participaram do encontro. “Por dia, cerca de 32 pessoas se suicidam no Brasil. E esse é um dado muito preocupante. E foi justamente para ajudar a quem está passando por depressão ou qualquer problema semelhante que o CVV foi criado. Ele é um serviço que funciona 24 horas por dia, de segunda a segunda. Basta ligar 188. Precisamos fazer essas pessoas acreditarem que não há coisa melhor que viver”, disse Delza Jitaí.
O projeto
O projeto “Ação estadual em defesa da vida” tem um longo prazo de duração e vai promover, dentre outras coisas, palestras e apresentações multidisciplinares em vários municípios do estado, encontros com profissionais e representantes das escolas públicas e privadas para capacitação e sensibilização a respeito do acolhimento de estudantes e da obrigatoriedade de notificação compulsória e reuniões para tratar de questões relativas à exposição direta ou indireta de trabalhadores a substâncias nocivas à saúde mental.
Também está prevista a realização de encontros regionais com profissionais das delegacias da mulher para capacitação a respeito do acolhimento e da obrigatoriedade de notificação compulsória, assim como para criação de fluxo para encaminhamento de vítimas a acompanhamento psicológico/psiquiátrico/social.
O projeto está sendo desenvolvido em parceria com a Polícia Militar de Alagoas, a Secretaria Estadual de Prevenção à Violência, o Centro de Valorização da Vida em Maceió e a Secretaria Estadual de Saúde.