Mata atlântica de Alagoas, dia 25 de setembro, às 9h, na Usina Utinga, em Rio Largo. Serão nesse cenário, data, hora e local que, pela primeira vez na América Latina, um animal vai ser reintroduzido ao seu habitat natural. Estamos falando do Mutum-de-alagoas, uma das cinco aves mais raras do mundo, que só existia aqui no estado até o final da década de 70, e desapareceu da natureza após a prática predadora do homem. Para sorte da fauna brasileira, um empresário carioca resgatou os cinco últimos mutuns que ainda viviam nas florestas alagoanas, em 1978, e levou-os para o Rio de Janeiro, a fim de evitar o seu desaparecimento por completo. Quatro décadas depois, e após um processo longo de reprodução em cativeiro, está sendo possível devolver seis exemplares da espécie para o seu lugar de origem. O Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) é um dos protagonistas de todo esse processo e, graças a intervenção da instituição, protocolos de educação ambiental e de fiscalização foram criados para proteger os animais que serão soltos na mata.
A reintrodução dos três casais de mutuns vai ganhar até cerimônia especial. Participarão da solenidade todos os órgãos que compõem o Plano de Ação Estadual de Reintrodução do Mutum (PAE): MPAL, Instituto de Proteção a Mata Atlântica (IPMA), Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL), Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Sindicato do Açúcar e do Álcool (Sindaçucar) e Federação das Indústrias de Alagoas (FIEA).
Igualmente estarão presentes os representantes da Universidade de São Paulo (USP), do Museu de Zoologia da USP (MZUSP) e da Universidade Federal de São Carlo (Ufscar) que, sob o comando do CRAX – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (Contagem/MG),
foram os responsáveis pelos estudos genéticos que permitiram a reprodução dos mutuns em cativeiro e, consequentemente, a sua permanência na fauna do Brasil.
“Será um momento bastante significativo para Alagoas, que estará dando exemplo ao mundo ao mostrar que, quando se tem instituições e gente comprometida com a defesa do meio ambiente, as transformações são, sim, possíveis. Quando o ambientalista Pedro Nardelli, lá no final da década de 70, montou uma expedição para resgatar os últimos exemplares da espécie, talvez ele não soubesse que, foi aquela sua iniciativa, que deu início a esse sonho coletivo. Anos depois, uma força-tarefa foi montada com o ideal de trazer a ave de volta para Alagoas, lugar de onde ela jamais deveria ter desaparecido. Foi um processo longo, que exigiu muitos estudos e a criação de um plano estadual para tratar dos processos necessários à reintrodução. E, agora, finalmente, todo esse trabalho terá seu momento de consagração tornado real: a soltura dos mutuns na mata atlântica”, declarou o promotor de justiça Alberto Fonseca.
Animais já estão se ambientando
Chegados recentemente em Alagoas, os seis mutuns que serão devolvidos ao seu habitat natural já estão em processo de adaptação. Eles foram colocados num grande viveiro preparado exatamente com a finalidade de experimentarem as matas alagoanas, para que possam se acostumar com o solo, o clima e a comida.
Mas, antes disso, durante o retorno para casa, os animais ganharam destaque no voo da Gol que os trouxe para Alagoas. Por meio de um speech – marketing à bordo da aeronave, o chefe de cabine anunciou que as aves estavam no avião, o que arrancou aplausos dos passageiros.