Não havia muito o que a defesa questionar, a performance dos promotores de Justiça Frederico Monteiro e Izelman Inácio, com o assistente de acusação Thiago Mota foi convincente e o Conselho de Sentença entendeu que o italiano Pasquale Palmieri,75, deveria pagar por seus crimes trancafiado no sistema prisional. O réu, acusado de matar o bacharel em Direito, José Benedito Alves de Carvalho, e de atentar contra a vida da sua esposa, a advogada Maricélia Schlemper, e da própria ex-mulher Dhanalutchmee Palmieri, ou Sandra, foi condenado a 36 anos, sete meses e 10 dias de prisão em regime fechado, assim decidiu e aplicou a sentença o juiz Ewerton Carminati. A acusação pediu condenação por três qualificadoras: motivo torpe, não permitir defesa das vítimas e feminicídio, esta última ignorada pelos jurados.
O advogado Thiago Mota foi para os debates com firmeza, do início ao fim de frente para o conselho de sentença, ressaltando que a intenção da acusação não era de promover uma vingança, mas de apenas fazer justiça. Ele pormenorizou o plano criminoso de Palmieri, bem como enfatizou a frieza e a forma possessiva com a qual tratava a ex-mulher. Ao final, o assistente de acusação se disse satisfeito com a condenação, apesar de terem derrubado uma das três qualificadoras: feminicídio.
“A justiça foi feita hoje pelo Bill, pela Maricélia, e pela Sandra. Em respeito à advocacia, à magistratura e à sociedade alagoana. E Deus estava aqui conduzindo tudo, os depoimentos e nossas atuações. A expectativa era de que a pena ficasse entre trinta e trinta e cinco anos, pois o senhor Pasquale já tem mais de 70 anos, e isso foi algo que o beneficiou. Mas estamos satisfeitos, o trabalho conjunto deu certo, o apoio de todos foi imprescindível e agora há um alívio nos corações’, declara Mota.
Em seguida foi a vez do promotor de Justiça Frederico Monteiro que surpreendeu o conselho de sentença e a todos da plateia ao convencer, parafraseando Rui Barbosa, que o italiano, apesar dos seus 75 anos, não era um idoso indefeso.
“Assim que o réu adentrou a sala, lembrei perfeitamente da fala de um pensamento de Rui Barbos que diz: não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem”, pontuou.
Monteiro reforçou a atuação do advogado Thiago Mota mostrando que os crimes foram todos premeditados e que Pasquale tentou tirar a vida de seus alvos principais, Maricélia e Sandra, por motivo torpe e, covardemente, sem ofertar quaisquer defesas, estendendo seu ódio a Bill que perdeu a vida após proteger a esposa.
“Não temos dúvidas de que agiu cruelmente e com tudo detalhado, pois o que levou a querer matar a Maricélia foi simplesmente o fato de ser advogada da sua ex-mulher, motivo que o fez odiá-la. Inclusive ela anda até hoje escoltada, perdeu sua liberdade. Em relação à senhora Sandra, o fato de não querer dividir com ela o que construíram juntos e o Benedito, morreu num tremendo gesto de amor, trocando sua vida pela da esposa. Nós viemos ao fórum para clamar por justiça, promovê-la, para dizer à sociedade alagoana que esse tipo de barbárie jamais ficará impune. Que o Ministério Público sempre será atuante em defesa da cidadania e agradecemos, com muito carinho, ao doutor Thiago que foi brilhante”, afirma o promotor.
Dando suporte à acusação também esteve o promotor de Justiça Izelman Inácio, este fez uma explanação sobre a ação de atirar e esclareceu o manuseio da arma, o que é uma munição pinada, numa demonstração de que, apesar de as primeiras munições não terem se soltado do tambor do revólver de calibre 32, usado pelo italiano, ele atirou pois apertou o gatilho com o propósito claro de matar. Ele foi preciso na sua atuação perante o conselho de sentença.
As provas eram tão evidentes que restou ao defensor público – atuando no caso porque os advogados desistiram de defender Pasquale-, tentar na réplica desqualificar o feminicídio e amenizar a pena alegando a idade avançada do criminoso. O tempo todo ele argumentou tecnicamente mostrando consciência da barbárie cometida pelo italiano.
Testemunhas
Ouvidos foram a advogada Maricélia Schlemper, a ex-mulher de Pasquale Palmieri e o guarda judiciário José Marcos responsável pela contenção do criminoso quando pretendia empreender fuga nas imediações do Fórum.
Bastante abalada, Schlemper chorou muito durante o depoimento visto a triste retrospectiva que, obrigatoriamente, perante a Justiça, deveria fazer. No entanto, sustentou todas as denúncias com os relatos, informando que o italiano, de dentro do sistema prisional, insatisfeito por não ter concretizado o seu plano de matá-la, continuava sequenciando ameaças.
Sandra, ex-mulher de Palmieri, disse que ele era um homem violento, ambicioso. Também foi pedido que relatasse como acontecera a tragédia em frente ao Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, naquele 9 de março de 2021.
Já José Marcos contou como foi que se deparou com o assassino e afirmou que Pasquale Palmieri, no processo de fuga, também apontou-lhe a arma. Ele disse que o italiano havia deixado o veículo na esquina do Fórum, já numa posição favorável para fugir.
A princípio sete testemunhas haviam sido arroladas, entre elas mais dois guardas judiciários que auxiliaram José Marcos. Os depoimentos foram dispensados porque entenderam que apenas um seria o suficiente. Outra testemunha seria o flanelinha que estava cuidando dos carros no estacionamento.
Comoção
O auditório do salão do júri ficou lotado por advogados, professores, alunos e familiares de Maricélia Schlemper. Cerca de 200 pessoas se fizeram presentes. A irmã de José Benedito também acompanhou tudo até o final.
Todos se emocionaram quando o advogado Thiago Mota lembrou que a vítima fatal, conhecida como “Bill”, foi aprovado pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas, passando, in memorian, a ser advogado com autorização da OAB nacional. Ele se preparava para apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) à época do assassinato.
Fotos: Claudemir Mota e Dulce Melo