A luta é anual, mas outubro serve para aumentar o alerta no combate ao câncer de mama, o segundo que mais mata no mundo e, consequentemente, no Brasil. Nessa segunda-feira (4), o Ministério Público de Alagoas (MPAL) lançou a campanha “MP com elas na prevenção”, com a participação do Ministério Público Federal e especialistas. O debate, ocorrido por meio de live, teve o propósito de levar às mulheres alagoanas dados reais de casos e orientações imprescindíveis.

O subprocurador geral administrativo, Valter Acioly, que substituía o procurador-geral, Márcio Roberto de Albuquerque, em tal momento, mencionou a importância da união de todos no processo, considerado por ele como de extrema necessidade.

“O Ministério Público abraça anualmente esta causa e os parceiros que se dispõem a somar nesse enfrentamento são dignos de nossos aplausos. Dar as mãos é de grande relevância para sejam encontrados os mecanismos ideais num cronograma de enfrentamento ao câncer de mama. O MP tem interesse imenso em saber como é possível instigar mais os promotores, pois eles têm uma capacidade invejável de atuar e nosso dever é o de proteger o cidadão, garantir seus direitos”, afirma o subprocurador-geral.

Os debates foram intermediados pela promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo da Saúde do MPAL, Micheline Tenório, que abriu seu discurso enfatizando que “o MP luta para que as pessoas tenham dignidade”. Aproveitou a oportunidade para registrar que, com o MPF, adotará as medidas necessárias para que, de fato, a mulher alagoana tenha uma assistência devida.

Sua fala foi reforçada pela procuradora da República, Roberta Bomfim, que defendeu o compromisso do MPF para melhores resultados.

“Estamos preparados para unir forças e garantir acesso mais rápido aos métodos de prevenção, curativos, paliativos. A assistência oncológica tem atenção especial nossa e é importante destacar a necessidade de voltarmos, após o período pandêmico, retomarmos a rotina e os cuidados médicos. É preciso assimilar que a descoberta precoce leva à possibilidade de cura”, ressalta a procuradora.

Especialistas

O momento contou com a presença da médica oncologista, Joyce Lisboa. Num resumo de todo conhecimento nessa área, ela pontuou assuntos que levam a reflexões e estimulam a mulher a tomar iniciativas no tocante à prevenção.

“O Ministério da Saúde recomenda que os exames sejam feitos a cada dois anos, a partir dos 50, e nós recomendamos a partir dos 40, anualmente. Como médica trago dados que comprovam que em 40% dos casos de câncer de mama, no Brasil, as mulheres tinham menos de 50 anos, e em 10% menos de 40”.

Ela advertiu que “a prevenção é o momento em que podemos fazer mudar os fatores de riscos, enquanto o diagnóstico precoce quando é feito permite mais chances de cura e os tratamentos são menos agressivos”. E conclui afirmando: “é preciso que as pessoas entendam essa importância”.

A especialista também falou na pandemia como agravante, responsabilizando-a pelo atraso em diagnósticos, biópsias e externou preocupação.
“É preciso retornarmos à rotina, porque um ano sem exames é muito tempo num diagnóstico de câncer”.

A médica e presidente da Sociedade Alagoana de Mastologia, Lígia Teixeira, por sua vez, iniciou elogiando o trabalho da doutora Joyce e falou sobre a questão das campanhas, da necessidade de mais envolvimento. Mas, trouxe uma informação diferente e que nem todos conhecem.

“Se o sistema funcionasse como deveria, não precisávamos fazer essas campanhas. Posso afirmar que não estamos dando o acolhimento devido a estas mulheres. No Brasil não faltam mamógrafos, o problema é que estão mal distribuídos e, nalguns locais, a qualidade dos exames é muito ruim e não conseguimos identificar o problema. E o outubro rosa deve ser o ano inteiro”, enfatiza Lígia Teixeira.

Comparativos SUS

Ambas atentaram para realidades diferentes com a utilização do Sistema Único de Saúde e compararam, como exemplo, Alagoas e São Paulo, onde a médica Lígia Teixeira se especializou por 15 anos.

As especialistas revelaram que é gritante o distanciamento na qualidade do atendimento às mulheres diagnosticadas com câncer e apresentaram alguns detalhes.

“O mesmo SUS, em São Paulo, é bem diferente daqui e a nova realidade que vivo em Alagoas há dois meses é impactante. Aqui não se consegue uma biópsia rápida, uma consulta com facilidade com o especialista e também o tratamento”, diz Lígia Teixeira.

Por esta razão, os dois Ministérios (MPAL e MPF) decidiram se reunir o mais rápido possível para cobrar e garantir celeridade com o propósito de salvar vidas.

“Como desdobramento desse encontro tão importante, checaremos todas as possibilidades de os MP´s atuarem na tentativa de agilizar todo e qualquer atendimento”, afirma a promotora Micheline Tenório.

“Há gargalos no sistema, mas há coisas que nos cabem e podem fazer a diferença, o MPF coloca-se à disposição”, reforça a procuradora-chefe, Roberta Bomfim.

O encerramento foi feito com a transmissão de um vídeo com depoimento da psicóloga, Patrícia Vieira, que descobriu o câncer de mama em 2008.

“Houve a surpresa porque tinha 30 anos, havia amamentado recentemente, mas, mesmo assim, apresentei o quadro. O que posso dizer é que, o amor próprio, a autoestima, o cuidado com a saúde, com a vida, deve ser pensado de outubro a outubro”.

Dentro dos alertas, é importante lembrar que o câncer de mama também acomete homens e que todo tipo de câncer é silencioso.