O Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE/AL), representado pelos membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e também pela Promotoria de Justiça de Santa Luzia do Norte, ofereceu denúncia em desfavor dos tenentes PM Tiago da Silva Duarte e Wellington Aureliano da Silva, ambos acusados de chefiar uma organização criminosa que tinha como ação principal invadir residências e roubar. Além deles, mais cinco pessoas foram denunciadas. A denúncia pede a perda de cargo público de policial militar dos oficiais.
Os promotores de Justiça do Gaeco e o promotor de Justiça de Santa Luzia do Norte detalham as investidas criminosas do grupo, nominado “bonde dos tenentes”, segundo investigações e provas contundentes, apontando planejamentos e execuções. Uma delas a invasão à residência do microempresário José Carlos Felismino, conhecido como “pescocinho” e “carlinhos”, em Santa Luzia do Norte. Nessa ação, os denunciados visavam lucrar a quantia de R$ 190 mil. Eles ficaram sabendo do valor através de informações repassadas por Dênis Novaes dos Reis Silva que residia na casa do ex-prefeito de Santa Luzia e era vizinho de Renato Cristiano.
Porém, apesar de todo aparato de armas e cobertura, in loco, dada pelos tenentes aos dois membros do grupo criminoso, identificados como Renato Cristiano e Cláudio Ramon, eles não esperavam que o proprietário do imóvel invadido recepcionaria a dupla a tiros o que frustrou a concretização do crime. Na hora da fuga, inclusive, Cláudio Ramon teria escorregado e atingido, acidentalmente, Renato Cristiano no hálux (dedão) do pé esquerdo.
Os tenentes Tiago Duarte também é citado no planejamento de outra ação criminosa, que ocorreria na cidade de Colônia Leopoldina, cujo alvo seria um cidadão que trabalha com apostas de jogos e geralmente transita com elevada quantia de dinheiro. Especificamente desse projeto criminoso participariam, além do oficial, que era lotado na 2ª Cia Independente de Joaquim Gomes, novamente Renato Cristiano, e os outros integrantes identificados como Marcelo da Silva (motorista), Neilson Santos Dantas e Marcelo da Silva, sendo os últimos empresário e auxiliar de escritório, respectivamente. Atrama teria sido projetada no escritório de Neilson.
Conforme apuração, nessa ação prevista para Colônia Leopoldina, o motorista Marcelo da Silva era o “ponteiro” do grupo, ou a pessoa responsável para seguir e repassar informações precisas da localização da vítima para assegurar o êxito da abordagem. Os promotores de Justiça afirmam que Marcelo, Neilson e Romoaldo confessaram, durante interrogatório, participação no planejamento do crime.
Acusações
Além de invasões às residências, há indícios de que os tenentes Wellington Aureliano e Tiago da Silva Duarte estão envolvidos noutros ilícitos como revenda de armas de fogo, apreensão e revenda de drogas, homicídios, tentativa de estupros durante as invasões. Os alvos tanto seriam pessoas envolvidas com o crime, como cidadãos comuns.
Estrutura
Para a ação criminosa em Santa Luzia, os autores alugaram um veículo modelo Corsa Classic, cujo proprietário desconhecia a finalidade do uso. Nessa ação, os tenentes usaram arma da corporação, enquanto Renato Cristiano, um revólver de calibre 38 e Cláudio Ramon uma pistola Taurus 938, pertencente ao tenente Aureliano. Segundo comprovações, o oficial se desfez da arma desconfiado que estariam sendo investigados.
Já dentro do planejamento para a ação criminosa em Colônia Leopoldina, o combinado foi que o tenente Tiago da Silva Duarte e Neilson Santos Dantas dariam cobertura à ação com o veículo Ford Ka pertencente a Neilson, enquanto Renato Cristiano e Romoaldo e Souza executariam diretamente o crime usando a motocicleta de Romoaldo. O oficial da PM, conforme depoimentos, teria assegurado retirar da cidade as viaturas do Pelotão de Operações Policiais Especiais (Pelopes), da Companhia.
Provas
Os promotores de Justiça do Gaeco e de Santa Luzia do Norte, além dos depoimentos, robusteceram a denúncia por meio de imagens de câmeras, conversas pelo aplicativo Whatsapp (encontradas nos aparelhos apreendidos) e quebra de sigilo telefônico devidamente autorizada pela Justiça.
Para a ação criminosa no referido município, os tenentes teriam orientado o grupo a não levar os aparelhos celulares, a fim de não serem localizados pelos sinais identificadores da Estação Rádio Base (ERB).
“Utilizando-se dos conhecimentos adquiridos na inteligência da Polícia Militar para a prática do crime”, afirmam na denúncia.
Os denunciados criaram, segundo os representantes ministeriais, um grupo no Whatsap nominado “oioioi”, onde, “em conversas, os tenentes demonstram preocupação em serem descobertos pela ação na residência do senhor José Carlos Felismino”.